quinta-feira, 30 de julho de 2009

OS 10 ANOS DA MORTE DE JAYME CAETANO BRAUN




Dez anos depois da sua morte, aos 75 anos, o inimitável pajador de Bossoroca continua sendo reverenciado como um dos maiores artistas do nosso tempo no Rio Grande do Sul e um homem que estava sempre disposto a defender a cultura e os valores do gaúcho no palco ou longe dele. Ao completar uma década da morte do pajador Jayme Caetano Braun, o frio parece o mesmo daquele 8 de julho de 1999, em Porto Alegre, numa oposição poética ao calor do dia 30 de janeiro de 1924, quando nasceu em Bossoroca. O pajador missioneiro foi divisor de águas na cultura gaúcha e viveu seus 75 anos com dignidade e reconhecimento. Era poeta comparável aos de fama nacional, mas seus versos ficaram presos entre os horizontes do gauchismo. Foi o maior improvisador e um dos artistas regionalistas mais aplaudidos de seu tempo. Contudo, a pajada somente foi reconhecida oficialmente pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) dois anos após sua morte.

Foi exército de um homem só por 20 anos, quando começaram a surgir seus primeiros seguidores no improviso, dentre os quais me enquadro. A pajada sobrevive graças a Braun com sua força poética, persistência, defesa dos valores do gaúcho, poder de oratória, postura artística e evolução espiritual. Porque quando ele improvisava, as almas pré-colombianas convertiam sóis e luas pro interior de sua voz. Seus versos campeiros, filosóficos e de protestos possuíam luz transcendental. Abaixo um dos mais belos poemas do grande poeta, Cemitério de Campanha

Cemitério de campanha,
Rebanho negro de cruzes,
Onde à noite estranhas luzes
Fogoneiam tristemente;
Até o próprio gado sente
No teu mistério profundo
Que és um pedaço de mundo
Noutro mundo diferente.

Pouso certo dos humanos
Fim de calvário terreno,
Onde o grande e o pequeno
Se irmanam num mundo só.
E onde os suspiros de dó
De nada significam
Porque em ti os viventes ficam
Diluídos no mesmo pó.

Até o ar que tu respiras
Morno, tristonho e pesado,
Tem um cheiro de passado
Que foi e não volta mais.
A tua voz, são os ais
Do vento choramingando
Eternamente rezando
Gauchescos funerais.

Coroas, tocos de vela
De pavios enegrecidos
Que tem Terços mal concorridos
Foram-se queimando a meio
Cruzes de aspecto feio
De alguém que viveu penando
E depois de andar rolando
Retorna ao chão de onde veio.

Mas que importa a diferença
Entre urna cruz falquejada
E a tumba marmorizada
De quem viveu na opulência?
Que importa a cruz da indigência
A quem já não vive mais,
Se somos todos iguais
Depois que finda a existência?

Que importa a coroa fina
E a vela de esparmacete?
Se entre os varais do teu brete
Nada mais tem importância?
Um patrão, um peão de estãncia
Um doutor, uma donzela?
Tudo, tudo se nivela
Pela insignificãncia.

Por isso quando me apeio
Num cemitério campeiro
Eu sempre rezo primeiro
Junto a cruz sem inscrição,
Pois na cruz feita a facão
Que terra a dentro se some
Vejo os gaúchos sem nome
Que domaram este Chão.

E compreendo, cemitério,
Que és a última parada
Na indevassável estrada
Que ao além mundo conduz
E aqueces na mesma luz
Aqueles que não tiveram
E aqueles que não quiseram
No seu jazigo uma Cruz.

E visito, de um por um,
No silêncio, triste e calmo,
Desde a cruz de meio palmo
Ao irnais rico mausoléu,
Depois, botando o chapéu
Me afasto, pensando a esmo:
Será que alguém fará o mesmo
Quando eu for tropear no Céu???

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