quarta-feira, 5 de maio de 2010

SOLIVAN BRUGNARA


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Batista entrou sem ser convidado
no sarau com chás, torradas e alguns maridos.
Terno amassado com cheiro de brechó,
camisa bege encardida.
Recusou o chá, procurou vinho
e como está acostumado a achar espaços
em ônibus lotados,
foi fácil subir ao palco.
Com a voz beirando o grito
iniciou o poema:
-A puta!
Soou como sirene com cárie.
Olhos voltaram-se, como girassóis raivosos
para a palavra, tão vermelha
que manchou de rubro a face das senhoras.
E o constrangimento se manteve
até o arremate de Batista:
-A puta, de Carlos Drummond de Andrade!
Alívio entre as senhoras, sorrisos, e mesmo aplausos.
É Batista, confirma-se a tese
que o maldito está no poeta
e não na poesia.
Tuas doces poesias são consideradas malditas
só porque não lava as mãos antes de fazê-las.

De Solivam

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